quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A noite do Lobisomem

Na noite mais amaldiçoada do ano de 1789, um vento intenso e nervoso balançava os galhos das árvores de um pequeno vilarejo, enquanto no céu a lua cheia ardia e iluminava todos os casebres. E, em uma daquelas casas se ouvia o martelar de alguma coisa sobre uma bigorna, onde se desenvolvia algo a fogo ardente. O que seria? Alfred estava cansado e suado diante das chamas. Pensava em aniquilá-lo de uma vez por todas.
Sim, Alfred estava se preparando para matar o lobisomem que o havia atacado.
De repente ele ouviu batidas na porta. Parou de martelar.
— Alfred — alguém o chamava. — Abra. É Marion.
Dirigiu-se até a porta e a abriu. Marion era um antigo amigo de infância.
— O que aconteceu?
— Ele me seguiu. Ele me seguiu, Marion!
— Ele quem?
— O lobisomem — Alfred olhou dentro dos olhos do amigo antes de dizer.
Marion ficou mudo. Ele sabia da lenda do lobisomem. Ele conhecia a história.
— Mas... O que você está fazendo?
— Uma bala de prata.
Alfred havia sido perseguido por uma criatura que julgou ser um lobisomem. Tinha dentes e garras afiadas, pêlos longos e um corpo corcunda, com as omoplatas avantajadas. Ele havia conseguido escapar, e agora preparava à bala de prata que o destruiria.
Mas, aquela noite teria muita coisa para apresentar a Alfred. Apaixonado por Victória, ele jamais imaginou que o terror se instalaria entre eles. Foi na busca pelo lobisomem que ele descobriu que havia algo errado na casa de Victoria. Chegando lá, ouviu um ruído estranho. Era o lobisomem. Ele se preparou, tentou se livrar do medo e entrou na casa. No corredor deu de cara com os pais de Victoria. Ambos haviam sido violentamente mortos. A criatura havia destruído a pele deles com arranhões e comido todos os órgãos e partes do corpo. Alfred ficou pasmo e seguiu o barulho. Quando chegou no quarto dela, os avistou. Victoria estava deitada na cama, ensangüentada, e, por sorte, Alfred chegou a tempo de impedir que criatura a atacasse.
— Saia daí seu demônio — gritou e apontou a arma para o lobisomem.
Ele partiu pra cima de Alfred, que não pensou. Atirou. A bala de prata entrou queimando no peito da criatura, que aos poucos foi voltando ao normal. Para a surpresa de Alfred, o lobisomem era seu amigo. Era Marion. Sim, a maldição havia lhe fisgado. Ele era o sétimo filho de uma família de seis irmãs. Ou seja, o sétimo homem é um lobisomem.
Meses depois, Victória descobriu que estava grávida. As dores e as náuseas a levam a crer que sim. Ela dá a luz a um menino pálido e magro, cujo nome dado ele é Tyler.
Sim, ele é filho do lobisomem. Filho de Marion!

Marcelo dos Santos
13 anos depois, uma criança corre pela floresta. É noite de lua cheia e ela percebe que seu sangue borbulha e que algo a incomoda. A lua grita e ela corre até uma encruzilhada. O seu sangue não agüenta mais. Ela não agüenta mais. A lua lhe observa. A dor vem lhe agredir. Esta doendo. Seus ossos se alongam violentamente e mudam de forma, movendo-se tão drasticamente que chegam a romper sua pele. Aos poucos ela começa pinicar e o sangue a correr furioso nas veias. Levantando as orelhas, ela escuta a lua uivante. É ai que, tomado pela forma de uma maldição, o jovem Tyler, fruto da relação entre Victória e Marion, se transforma em lobisomem pela primeira vez em sua vida.
Tyler uiva para a lua. Seu uivo voa longe e ele começa a correr para a mata.

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