Ainda hoje sinto saudade de Isabella — a minha eterna doce amada. Sempre contemplei seu riso, seus olhos e seus cabelos quase doirados. Quando me recordo dos nossos dias vejo que sempre tive o que desejei, e que, de fato, fomos feitos um para o outro. Isabella era escritora, e existe um texto feito por ela que não consigo ler sem chorar. É Um texto sobre saudade, coisa que muito me lembra ela.
Era noite, e a sua lembrança estava me golpeando. Enquanto fumava o meu charuto cubano, deslizei até a escrivaninha e peguei o texto. Sentei naquela velha poltrona que um dia fora do meu pai, e depois de por os óculos, estudei o texto por um minuto. Olhei para a casa negra, banhada em escuridão, afora a luz cálida sobre mim e o papel, e, quando retornei o olhar, dei inicio a leitura e a recordação:
“Como seria bom se pudéssemos voltar no tempo apenas um pouquinho. Apenas aquele pouquinho para podermos reviver. Seria bom, muito bom! Voltar a sentir as mesmas sensações, as mesmas histórias e os mesmos risos. Sentir, de fato, o amor e os sentimentos que foram vividos e colaborados. Mas as coisas nunca voltam. O tempo não volta. As horas não voltam. Os segredos e os momentos divididos não voltam. Que pena! O passado fica apenas na memória. Para sempre, para todo o sempre.
Porém as coisas permanecem. Tudo. Tudo o que foi dividido. Os olhares, as trocas de afeto, os abraços, as lagrimas que queimavam os rostos, os fortes sorrisos que faziam arder a barriga, enfim, tudo o que nos marcou, o que nos eternizou. Ah, a saudade!
Os amigos permanecem, seus semblantes, cada gesto, cada brilho trazido nos olhos, cada minucioso ar de simplicidade. Eles permanecem para sempre! A maneira de ser de cada um: suas qualidades, seus defeitos, todas as suas manias e confusões. Isso tudo vai ficar eternizado na memória. Isso é vida, isso é gloria. É acima de tudo presente de Deus.
Ah, essa saudade! Como eu queria poder dar um último abraço naquele amigo que eu jamais voltarei a ver, naquele amigo que eu jamais voltarei a ouvir. Como eu queria reviver aquele momento, aquele sentimento. Mas ele não volta, e eu tenho que estar ciente disso. Apenas a minha memória é capaz de guardar tantas coisas boas e eternas.
Um dia, quando eu estiver velha e talvez com um andar debilitado e deficiente, ainda vou lembrar. Talvez eu esteja sentada em algum balanço ou numa poltrona surrada, talvez eu esteja na cama, sofrendo para poder descer, mas ainda assim lembrarei daqueles dias, daqueles momentos inesquecíveis. Meus filhos saberão de tudo isso, talvez até se emocionarão, mas irão gostar de saber, e ai eu me sentirei orgulhosa por ter vivido isso, por ter passado anos carregando toda essa saudade, e poder levar comigo essas coisas e lembranças, para o eterno, até o fim.”
Lentamente enxuguei as lágrimas que riscavam meu rosto calejado pelos anos, e por um segundo fiquei quieto, apenas contemplando a saudade que me doía. Minutos depois, guardei o glorioso manuscrito e retornei para a minha poltrona. Ah Isabella, que saudade de você! Lentamente fui fechando os olhos — claro que eu posso morrer, o que me resta nessa vida sem ela? — e sentindo a brisa da noite vir me beijar, como se fosse o beijo eterno da minha amada.
Marcelo dos Santos
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