— Mãe, tem alguém ali — disse Elisabeth.
— Ali aonde menina?
— No meu armário.
— Minha filha, já disse a você que não tem nada no seu armário. É coisa da sua cabeça. Agora vá dormir, por que amanhã você tem que acordar cedo para ir pra escola.
A menina, tomada por um medo do tamanho de sua inocência, ficou parada na porta e não saiu dali. Alguns segundos depois, seu pai lhe repreendeu.
— Elisabeth, por favor, vá para cama.
— Mas eu estou com medo pai — disse com a voz rouca, um pouco baixa, mas suave, como mandavam os seus sete anos de idade. Vestia uma camisola branca que lhe cobria os joelhos e estava descalça.
Sem saber como proceder, a pobre menina voltou para o quarto acompanhada de um temor jamais visto. Assim que passou pela porta, Elisabeth rapidamente escapuliu para baixo do cobertor e se cobriu. Até tentou dormir. Até tentou cochilar. Mas aquele barulho ainda socava em sua cabeça. Vinha do armário, isso ela sabia, e minutos mais tarde seus olhinhos abriram ao ouvir um dos tantos ruídos estranhos que latejavam em seu coração. Ao voltar os olhos para o armário, ela viu as duas maiores portas abrirem, e segundos depois, emergindo das trevas da escuridão, avistou uma mulher alta, munida de um vestido branco, com grossas manchas de sangue se proliferando rapidamente pelo seu corpo torto e demoníaco, e com os cabelos para frente, cobrindo-lhe a face, vindo em sua direção. Elisabeth estava atônita com aquela visão e não conseguia nem gritar de tanto medo ao ver àquela mulher. Aquela figura caminhava sem pressa, até que repentinamente ergueu os olhos vazios como um poço negro e sorriu um riso que arrepiou os cabelos da menina.
— Paul — chamou Margareth, mãe de Elisabeth. — Você ouviu isso?
— Isso o que? Vá dormir, temos que acordar cedo amanhã — ele repeliu.
— Veio do quarto de Elisabeth.
Ele abriu os olhos e ouviu aquele mesmo silêncio que sempre pairava pela casa durante as longas madrugadas. Mas dessa vez, ousou dar atenção a sua mulher. Ambos levantaram e foram até o quarto da menina. Encontraram a porta aberta, e assim que entraram, perceberam que Elisabeth não estava na cama. De anormal visualizaram apenas as portas do armário abertas. Paul foi até lá, e imóvel em frente à escuridão, ficou mudo.
— Santo Deus...
— O que foi Paul? O que houve?
Ele apontou com o dedo. Elisabeth jazia no fundo do armário em pedaços. Mutilada. Estava sem carne nem órgãos. Do seu lado estavam os braços e as pernas, jogados como se fossem pequenos gravetos.
Paul e Margareth não sabiam o que fazer, e de repente Margareth virou para trás e avistou aquela mulher sobre a cama da filha. Marido e mulher se entreolharam. A figura ergueu os olhos e sorriu, e inevitavelmente tudo ficou negro diante dos olhos daquele casal.
Marcelo dos Santos
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