A pedido da comunidade do bairro Borgo, busto será revitalizado
Numa iniciativa da Fundação Casa das Artes, a pedido da comunidade do bairro Borgo, foi encaminhado o pedido de restauro do monumento em homenagem ao padre Oscar Bertholdo, localizada na praça homônima, no bairro Borgo. O secretário da cultura Juliano Volpato garantiu recursos e a contratação do artista plástico Aido Dal Mass, o mesmo que confeccionou a obra original em 1995, sendo o detentor dos direitos autorais. A efígie, em pedra basalto, será reconstituída e remodelada, já que se encontra em péssimo estado de conservação. O início do restauro está previsto para o mês de julho. Também será instalada uma placa de mármore com uma homenagem ao pároco. A original, em bronze, foi roubada e o busto, chegou a ser derrubado por vândalos, como lembra o idealizador do monumento, Carlos Nelson Ludwig. Aos 85 anos, um dos moradores mais antigos do Borgo, Seu Ludwig tem dificuldade para falar, mas recorda como se fosse hoje das visitas do amigo, o padre Oscar Bertholdo. “Antes de ir lecionar na faculdade ele vinha aqui tomar café e jogar conversa fora”, lembra. Ludwig conta que o padre, que rezava missa na Igreja Santo Antônio, era um grande amigo da família e dos vizinhos e que ficou muito abalado com sua morte, por assassinato em 1991. Cerca de um ano depois, no dia 21 de maio, foi inaugurada a praça Padre Oscar Bertholdo. Em dezembro de 1995, por ideia de Ludwig e com apoio da comunidade, foi erguido o busto do pároco na praça. Na época, o custo do monumento foi bancado pelas empresas Bentec e Tevan, segundo o sócio-proprietário da Bentec João Benedetti. Com o passar dos anos, a obra foi depredada e abandonada. Conforme o secretário Volpato, a Fundação Casa das Artes fará o restauro somente do monumento. A revitalização da praça será a cargo da Secretaria de Meio Ambiente, que já está no planejamento.
Sobre o padre Oscar Bertholdo
O padre Oscar Bertholdo, natural de Nova Roma do Sul, é considerado um dos maiores poetas contemporâneos do Estado com várias obras premiadas nacionalmente. Com sua voz marcante, atuava em programas em rádio em Farroupilha. Em Bento Gonçalves, foi pároco na igreja Santo Antônio e era professor na Universidade de Caxias do Sul (UCS-Carvi). Bertholdo foi assassinado a facadas em 23 de fevereiro de 1992, aos 56 anos, na sua residência em Farroupilha. Foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha, exercendo forte influência em todos os movimentos literários surgidos entre os anos 1960 e 1990. Teve decisiva participação na criação do Congresso Brasileiro de Poesia, do qual foi uma das grandes atrações em sua primeira edição, vindo a ser assassinado poucos meses antes da realização do segundo evento.
Alguns livros publicados:
“As Cordas” (168), “O Guardião das Vinhas” (1970), “A Colheita Comum” (1971), “Poemimprovisos” (vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro/1973), “Lugar” (vencedor do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás/1974), “Vinte e Quatro Poemas” (1977), “Árvore & Tempo de Assoalho” (1980), “Informes de Ofício e Outras Novidades” (1982), “Canto de Amor a Farroupilha” (1985), “C’Antigas” (1986) e “Momentos de Intimidade”. Participou de inúmeras antologias, entre elas: “Histórias de Vinho”, “Vinho dá Poesia”, “Arte & Poesia” e “Poetas Contemporâneos Brasileiros – Volume 1”, esta a primeira antologia publicada pelo Congresso Brasileiro de Poesia.
Após sua morte foram publicados:
“Amadas Raízes”, “Poemas Avulsos”, “Boca Chiusa” e “Molho de Chaves”, além de poemas nas seguintes antologias: “Poeta Mostra a Tua Cara – Volume 4”, “Medida Provisória 161”, “Poesía de Brasil – Volume 1”, “Poesía Brasileña para el Nuevo Milenio”, “Poésie Du Brésil – volume 1” e “Poesia do Brasil – volume 1”, livro que inaugurou a série de antologias oficiais do Congresso Brasileiro de Poesia.
Confira um dos poemas de Bertholdo:
Tempo de Vindima
Perdoa-me continuar impossuído como antes,
trago para os vãos da aldeia a nitidez dos frutos.
Estávamos tão próximos que outono tatuou
o fiel silêncio bordando as vinhas do orvalho.
Havia solicitude para a seiva desfeita
sem disfarces na íntima alucinação da colheita.
A vindima trouxe do outono as horas retidas
na quase imperfeita esperança decisiva.
Para enfrentar as lembranças que a vida deixou
a solidão lenta das coisas incompreendidas.
Agora posso inventar em aceno o doce hálito
enquanto as calmas uvas batem palmas pelos vales.
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